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Foto do escritorMemória e Ditadura nas escolas do DF

Visibilidade Transexual e Travesti no Lampião de Esquina

As matérias sobre as travestis e transexuais veiculadas no jornal “Lampião da Esquina” foram instrumentos de luta de valor inegável para dar visibilidade às perseguições e às violações de direitos humanos dos LGBT, bem como dar voz às suas resistências e lutas, durante o Regime de Ditadura Militar no Brasil. Os Dados do Relatório da Comissão da Verdade mostram que a perseguição as travestis e transexuais fazia parte da política governamental da ditadura militar, seja por atuação ou omissão do Estado, e levando em conta o preconceito e a discriminação com uma dimensão institucionalizada. O relatório reitera que essa parcela da população quando presas ou perseguidas politicamente acabavam sofrendo mais por serem classificados degeneradas e pervertidas. Os militares comumente associavam esses temas à ações subversivas como uma espécie de proselitismo esquerdista ligado ao Movimento Comunista Internacional (CNV, volume II, 2014, p. 303).

O Lampião da Esquina ainda que tenha sido uma voz em defesa das identidades sexuais e de gênero perseguidas e consideradas desviantes, em alguns momentos o jornal reforça estereótipos e preconceitos a respeito das travestis e transexuais. É importante sublinhar que, no período ditatorial, as fronteiras entre o conceito de travesti e de transexual não eram claras. Essas identidades de gênero se confundiam nos discursos dos documentos do regime militar e em tantos outros registros, também no próprio entendimento das próprias travestis e transexuais, quanto no das pessoas que se referiam a elas.


O Jornal também tentou dar voz as travestis e transexuais em formas de entrevistas que decorrem durante várias edições do Jornal como por exemplo na matéria da edição n. 07 de dezembro de 1978, Mônica Valéria: uma vida em segredo, depoimento da Travesti Monica Valeria:

[...] documento de bicha pobre é grade. Eles põem a gente no camburão e falam pro Comissário que a gente é vagabunda, mesmo com documento, carteira assinada na bolsa. Diz que a gente faz bagunça, diz que bicha só fala palavrão. Se não falou inventam. Na Rua do Riachuelo me joguei dentro de uma caixa d’água no meio de uma blitz da polícia, numa casa de cômodos onde eu morava. Noutra casa, na Rua do Rezende, me prenderam e abandonei o quarto com tudo que era meu lá dentro. Roubaram. Levaram tudo, enquanto eu estava na cadeia (n. 07, dez. 1978, p. 10).

Pensando assim não tomar o local de fala e vivencia dessas pessoas, trazendo elas de alguma forma para dentro do jornal, já que o jornal era predominantemente composto por Homens homossexuais e cisgênero – (cis, termo utilizado para se referir ao indivíduo que se identifica, em todos os aspectos, com o gênero que lhe foi designado ao nascer).

O Jornal, como dito, também veiculou, em certa medida, preconceitos contra as travestis e transexuais correntes no imaginário social da época. É preciso sublinhar o reducionismo e o preconceito da afirmação de que o homofóbico é sempre de um homossexual “que não saiu do armário”. Principalmente porque esse argumento é uma forma homofobia de desqualificar os homossexuais. Além de criar uma associação que e atribui à homofobia, fenômeno fruto da heteronormatividade, atos violentos que resultam dos próprios gays no qual os heterossexuais não estariam envolvidos.

Pesquisar a travestilidade e a transexualidade no Lampião da Esquina, é tentar compreender um imaginário de resistência, coragem e por vezes reprodução de preconceitos. A própria comunidade LGBTQI+ está sujeita a assemelhar-se de preconceitos e discriminações colocados a ela como qualquer outro grupo social marginalizado. Mas a presença desse jornal é uma referência fundamental, durante o governo ditatorial, na desnaturalização da distinção binária de gêneros do senso comum ao científico e a naturalização de que transexuais e travestis são pessoas, como qualquer outra, Onde a questão de gênero, até hoje em dia, devem ser repensada como uma questão de cidadania e de direitos humanos.


Referência:

  • SILVA, Edlene Oliveira e BRITO Alexandre Magno Maciel Costa. Travestis e transexuais no jornal ‘Lampião da Esquina’ durante a ditadura militar (1978-1981). Edição n. 38 (2017).




Vinicius Chaves da Silva, estudante de História

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