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Foto do escritorMemória e Ditadura nas escolas do DF

O Brasil estava à beira de uma ditadura comunista?

Uma das maiores falácias dos militares durante a ditadura como justificativa para o golpe de 1964 foi a de que o Brasil estava à beira de um regime comunista. Visto o advento do regime de esquerda em Cuba durante o século XX, a revolução mexicana em 1910, Revolução Nacional de 1952 na Bolívia, e é claro as reformas agrárias e revoluções na Guatemala em 1954.A América Latina passava por uma grande trajetória de movimentos sociais e lutas populares, forte agitação dos regimes de esquerda que aumentavam cada vez mais e preocupavam a potência estadunidense que tinha receio do Brasil ser influenciado por ideais anticapitalistas.


Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o mundo é tomado pela bipolarização político econômica, de um lado haviam países aliados ao capitalismo norte-americano e do outro as alianças soviéticas. Enquanto isso, os Estados Unidos já assustado o suficiente com as formas que a revolução cubana tomava e temia que o Brasil, entre outros países latino-americanos, tomasse os mesmos rumos. Porém, com a posse do presidente João Goulart em 1961, que era diretamente acusado de flertar com o socialismo cubano, o até então embaixador estadunidense no Brasil, Lincoln Gordon, em carta para o presidente Kennedy, afirma haver o grande risco do Brasil se perder nas mãos do comunismo de Fidel.


[...]As atitudes recentes de Goulart representam uma ameaça ao Mundo Livre. Minha conclusão pessoal é que as atitudes recentes de Goulart e Brizola sobre a reforma agrária levarão o Brasil ao comando de um governo comunista similar ao de Fidel Castro em Cuba. (O Dia que Durou 21 Anos, 2013).



Desde então, Kennedy e Gordon tramam contra o presidente João Goulart com o pretexto de que seria em defesa da liberdade e aliança para o progresso, discurso positivista muito utilizado pelo presidente em prol do financiamento de propagandas contra Jango e a favor do golpe militar. Produzidas e disseminadas pelo IPES (Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais) eram reproduzidas em cinemas, praças públicas, em jornais e é claro na TV/rádio. Tudo arquitetado para promover mentiras sobre o que era um governo socialista e que, no fundo, o que estava atrás era o interesse estadunidense na instauração do golpe militar para frear o avanço do governo de esquerda de Goulart com ações para criar o sentimento anticomunista, principalmente no Congresso, Forças Armadas e é claro grupos religiosos.



Assim como no Brasil, o Chile também foi feito de quintal pelos Estados Unidos, em 1970 o presidente Salvador Allende eleito democraticamente estava firmando seu plano, “La via chilena al socialismo”, que abriria portas para o socialismo. Allende conseguiu, até 1973, combater o analfabetismo, redistribuiu quase 6 milhões de hectares para populações camponesas, nacionalizou empresas estrangeiras, principalmente as estadunidenses (sem direito a indenização), bancos, e as minas de cobre. A vista disso, entra em ação o projeto estadunidense de sabotar a economia chilena com sanções e é claro, assim como no Brasil, grupos de extrema-direita recebiam suporte da CIA para greves e propagandas contra o governo de Allende. Em 1973 o Chile sofre um golpe organizado por militares chilenos que nomeiam Augusto Pinochet e assim se iniciam um dos períodos mais violentos da história do Chile.


Já no Brasil, seguiu-se os mesmos rumos, intervenção nos meios de comunicação com propagandas anticomunistas e pregando o caos, e financiamento de juntas militares associadas as convicções norte americana e contrárias ao governo de Jango, mas principalmente para aterrorizar a população sobre a ameaça comunista que espreitava toda a América latina. Portanto, manifestações da extrema-direita e de movimentos cristãos não eram difíceis de se ver pelo Brasil todo, a mais famosa delas é a “Marcha da família com Deus pela liberdade” que varreu as ruas do Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul em forma de protesto contra o “indesejável” governo comunista de Jango e Brizola, parece até com manifestações dos últimos anos, não é mesmo? (Vasconcelos, Tricontinental, 2020).



Com todo o apoio da elite brasileira que via nos militares a confiança de que seus interesses seriam representados, a Operação Brother Sam tomou curvas crescentes com base nos últimos acontecimentos e Johnson decide enviar sua frota naval para a costa de Santos com o movimento militar do General Mourão Filho. Na madrugada do dia 31 de março para o dia 1 de abril e assim estava instaurado a tomada do poder pelos militares com o recuo de Jango para o Uruguai com Leonel Brizola. No dia primeiro de abril de 1964 se iniciou no Brasil a era de grande repressão, violência e violação dos direitos humanos que durou 21 anos. Quatrocentos e setenta e cinco mortos, sem contar as torturas, durante o regime e pode-se considerar um número maior devido à ausência de mais dados do período.


Nota-se que sem o apoio dos Estados Unidos a ditadura não teria tomado forças, claro que não se pode tirar o crédito dos militares brasileiros, mas de certa forma a influência e o medo estadunidense serviram para controlar a classe dos militares, a elite e a comunidade cristã como fantoches para sua hegemonia capitalista mesmo que seja necessário o uso de força, violação dos direitos humanos e o derramamento de sangue em prol de sua ideologia e o dito reestabelecimento da ordem, livramento das mãos do comunismo que ameaçavam a América latina, ou de qualquer tipo de governo de esquerda. Diante disso, o Brasil não estava a beira de uma ditadura comunista, mas sim de uma relação em paralelo ao imperialismo que visava desmantelar a autonomia brasileira. (FARIA, 2018, p.11)



Referencias Bibliográficas:


FARIA, Thamires Riter de. A Participação dos Estados Unidos no golpe de estado de 1964 no Brasil: a operação Brother Sam. 2018. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Relações Internacionais) – Faculdade de Relações Internacionais, Universidade Federal da Grande Dourados, Dourados, MS, 2018.


O DIA que Durou 21 Anos. Produção: Pequi Filmes. [S. l.: s. n.], 2013. Disponível em: http://www.pequifilmes.com.br/site/documentarios-o-dia-que-durou-21-anos.php. Acesso em: 30 ago. 2022.


JOFFILY, Mariana. A política externa dos EUA, os golpes no Brasil, no Chile e na Argentina e os direitos humanos. Topoi, [s. l.], 2018. Disponível em: https://doi.org/10.1590/2237-101X01903803. Acesso em: 30 ago. 2022.


INTERNATIONAL RELATIONS WEEK, 2015, Bauru. A INFLUÊNCIA DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA NO GOLPE MILITAR DO BRASIL DE 1964 [...]. [S. l.: s. n.], 2015. Disponível em: https://unisagrado.edu.br/custom/2008/uploads/anais/relations_week_2015/trabalhos_2015/001-007-Ana_Paula_Bridi.pdf. Acesso em: 30 ago. 2022.


Escrito por Isabella Alves, estudante de História.




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