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Foto do escritorMemória e Ditadura nas escolas do DF

Honestino Guimarães legado de luta e resistência

A Ditadura Militar brasileira deixou grandes marcas na sociedade de autoritarismo e violação dos direitos humanos. No período, a tortura foi uma prática sistemática do regime e não foram raros os casos de desaparecimento e morte de vítimas de crimes cometidos por agentes do Estado. Honestino Guimarães é um dos grandes nomes de desaparecidos políticos. O jovem de apenas 26 anos na época de seu desaparecimento, foi preso pelo Centro de Informações da Marinha (CENIMAR), sob a acusação de apoiar um novo movimento de resistência armada recém-surgido no sul do Pará. Desde então, nunca mais foi visto.


Honestino Monteiro Guimarães, filho de Benedito Monteiro Guimarães e Maria Rosa Leite Monteiro, nasceu no dia 28 de março de 1947 na cidade de Itaberaí – Goiás, e aos treze anos se mudou com a família para a capital em construção. Estudou em escolas públicas de Brasília e, durante a época, começou sua vida na militância estudantil pela participação na Ação Popular (AP), organização clandestina originada de movimentos sociais católicos. Em 1965, aos 17 anos, foi aprovado no vestibular para o curso de Geologia na Universidade de Brasília (UnB).

Após entrar na universidade, Honestino engajou-se mais na resistência à ditadura e foi eleito para o Diretório Acadêmico de Geologia. Em 1967, o estudante enfrentou sua primeira prisão, acusado de participar de pichações que hostilizavam o governo de Costa e Silva, presidente da época. No mesmo ano, teve sua segunda prisão, acusado de participar de um suposto movimento guerrilheiro em Itauçu - Goiás. Mesmo preso, foi eleito presidente da Federação dos Estudantes Universitários de Brasília (FEUB).

Em 1968, casou-se com Isaura Botelho, também militante estudantil na época. No mesmo ano, a Universidade de Brasília foi invadida por forças do exército para cumprir mandados de prisão contra Honestino e mais sete líderes estudantis. Durante sua terceira prisão, Honestino foi desligado da universidade.


Não demorou para que o nome de Honestino Guimarães caísse na lista de perseguidos da Ditadura Militar. A liderança nas ruas e dentro do campus o colocou na linha de frente dos procurados. O estudante parecia ter pressa para se formar. Cursou em seis semestres 189 dos 200 créditos exigidos para pegar o diploma. Em 1968, quando faltavam três disciplinas para se graduar, ele foi expulso. (ALMEIDA, 2019)

Em 1969, após o Ato Institucional 5, que estabelecia prerrogativas para que os militares pudessem perseguir os opositores do regime, Honestino saiu de Brasília e passou a viver clandestinamente em São Paulo com Isaura. Em 1970, nasceu sua única filha, Juliana Guimarães. No ano seguinte, Honestino foi eleito presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) e transferiu-se para o Rio de Janeiro, separado de Isaura. O líder estudantil continuou a vida na clandestinidade pelos anos seguintes, coordenando atividades estudantis, desempenhando as tarefas de sua organização política e lutando contra o regime militar.


Honestino nunca quis ser um mártir, nem se tornar herói. Lutou com as forças de que dispunha – principalmente suas ideias – e viu-se jogado nas sombras da clandestinidade, sempre acreditando que tudo o que cada um fizesse poderia juntar-se para formar algo grande e forte. Por isso não quis partir para uma suposta segurança como refugiado político em outro país, para não deixar de cumprir seu papel na História e, sobretudo, para não abandonar os que ficavam. (ALMEIDA, 2019)


Em 10 de outubro de 1973, foi preso pelo CENIMAR, sob a acusação de apoiar um novo movimento de resistência armada recém-surgido no sul do Pará. Após sua quarta prisão, nunca mais foi visto. Desaparecido até 1996, vinte e três anos depois, seu primeiro atestado de óbito foi entregue à família emitido pelo poder judiciário do Rio de Janeiro, com o Estado reconhecendo a responsabilidade por seu desaparecimento, mas ainda assim, sem mencionar a causa da morte.

Somente em 2013, após a Comissão da Verdade que apurou mortes e desaparecimentos ocorridos durante a Ditadura Militar brasileira, a declaração verdadeira veio à tona, justificando a morte de Honestino como consequência dos atos de violência que sofrera por parte dos militares quando estava sob custódia do Estado brasileiro.


Eu cresci ouvindo histórias. Tenho poucas fotos e todas as dúvidas. Ele era um sonhador e me contaram que era um ser humano generoso e lutava por aquilo que acreditava. Hoje, se completam 40 anos do desaparecimento do meu pai e não sabemos de nada. Mas, com a anistia, conseguimos duas importantes mudanças na certidão de óbito: de falecido para desaparecido em 10 de outubro de 1973 e a causa da morte passou a ser crime cometido pelo Estado. Juliana Guimarães, filha de Honestino, em audiência da Comissão Nacional da Verdade, realizada em 10/10/2013.


Grande militante da democracia, Honestino Guimarães se tornou um símbolo de luta e resistência, sendo alvo de homenagens. Em 1997, o teatro de arena do Campus Darcy Ribeiro da UnB recebeu o nome Teatro de Arena Honestino Guimarães, e a principal organização estudantil da Universidade de Brasília se chama Diretório Central dos Estudantes Honestino Guimarães. Também em seu tributo, o Museu Nacional da República, o Grêmio Estudantil do Centro de Ensino Médio Elefante Branco, onde estudou, e o centro acadêmico do curso de Geologia da Universidade Federal do Ceará levam seu nome.

Honestino foi um jovem que não se deixou instrumentalizar pelo sistema e construiu, com suas devidas limitações e questionamentos que possam ser feitos, uma autonomia de pensamento (SCOLARO, 2018). Honestino Guimarães marca um legado de luta e resistência até os dias atuais, trazendo impulso para aqueles que lutam por uma sociedade menos desigual. A Ditadura quis matar seus ideais, mas ainda hoje o nome do estudante é símbolo de luta e resistência – não uma mensagem de morte e derrota, mas de vida e coragem.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, Betty. Paixão de Honestino. Editora UnB, 2019.

ALMEIDA, Betty. Honestino Guimarães. Disponível em: <http://honestinoguimaraes.com.br/> Acesso em 13 de julho de 2022.

MÜLLER, Angélica. "Você me prende vivo, eu escapo morto": a comemoração da morte de estudantes na resistência contra o regime militar. Revista Brasileira de História, v. 31, p. 167-184, 2011.

SCOLARO, Arcangelo. Honestino Guimarães: A força que vem da juventude. Universidade Estadual do Goiás, 2018.

TORTAMANO, Caio. Honestino Guimarães: o desaparecimento do estudante que desafiou a Ditadura Militar. Aventuras na História, 2020. Acesso em: <https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/honestino-guimaraes-o-desaparecimento-do-estudante-que-desafiou-a-ditadura-militar.phtml> Acesso em 14 de julho de 2022.


Escrito por Evelyn Gonçalves, estudante de história


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