
Julgamento de Dilma Rousseff em 1970. (AFP)
Dilma Vana Rousseff, a primeira presidenta do Brasil, nasceu no dia 14 de dezembro de 1947 em Belo Horizonte, no estado de Minas Gerais (MG). A mineira é filha de um imigrante búlgaro e de uma professora. Dilma é mãe de filha única: Paula Rousseff Araújo.
Desde a adolescência esteve ligada à resistência política.
Aos 16 anos entrou para a Organização Revolucionária Marxista – Política Operária (Polop), onde iniciou sua militância. O Polop era um grupo alternativo ao PCB, que à época buscava uma conciliação entre os trabalhadores e a burguesia, considerando a população brasileira suficientemente pronta para adesão ao socialismo. (MONTENEGRO; HIPPOLITO)
Com a evolução de suas ideologias e de sua atividade, a jovem ingressou no Comando de Libertação Nacional (Colina), adepto da luta armada. A partir de então, Dilma passou a viver e agir na clandestinidade.
A Polop foi repartida em grupos revolucionários de diferentes concepções. Com isso formou-se uma Vanguarda Armada Revolucionária (VAR) – Palmares. O Colina e a VAR-Palmares organizaram-se para a ação de roubo no cofre localizado na casa da amante do ex-governador de São Paulo, Ademar de Barros. A ação arrecadou 2,5 milhões.
Dilma Rousseff se defende, alegando que nunca participou efetivamente da ação armada. Entretanto, ligaram as ações guerrilheiras à vida da jovem militante. Já casada com o pai de sua filha, o advogado Carlos Franklin Paixão de Araújo, foi presa em 1970 em São Paulo.
Dilma foi presa pela Operação Bandeirante (Oban) e esteve detida na sede da Oban, a 36ª Delegacia de Polícia, e no Departamento de Ordem Política e Social (DOPS). Acusada de “subversão”, foi submetida ao pau de arara, à palmatória, a socos e bofetadas a choques elétricos.
As seções de tortura, além dos traumas psicológicos, ocasionaram problema na glândula tireoide e na arcada dentária de Dilma Rousseff. Foi condenada e transferida para o Presídio de Tiradentes, na capital paulista, onde cumpriu pena até o final de 1972. Atualmente, quando perguntada sobre, Dilma afirma não ter pesadelos com o martírio da tortura.
Em 1973, Dilma vai para Porto Alegre e tenta recomeçar sua vida. Ingressa na universidade em 1974 e conclui o curso em 1977. Em 1979, a presidenta e seu cônjuge, dedicaram-se ao movimento pela anistia.

Foto de Dilma ao ser presa.ARQUIVO PÚBLICO DE SÃO PAULO(APESP)
Competência e habilidade não faltam para Dilma. Dilma é economista pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A atividade política da presidenta se uniu à sua formação profissional, consagrando a mineira como uma das mais importantes economistas políticas do nosso país. Dilma ocupou cargos importantes como de Secretária da Fazenda de Porto Alegre, presidente da Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul, diretora-geral da Câmara Municipal de Porto Alegre, Secretária de Energia, Minas e Comunicação do Rio Grande do Sul, ministra de Minas e Energia, chefe da Casa Civil, presidente do Conselho de Administração da Petrobrás, diretora dos programas de Aceleração do Crescimento (PAC) e de habitação popular “Minha Casa, Minha Vida”.
A luta de Dilma Rousseff sempre esteve ligada à democracia. Na década de 1970, ligada ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB), que se opunha ao regime ditatorial, a presidenta também ajudou a fundar o Partido Democrático Trabalhista (PDT) no Rio Grande do Sul, entre o final da década de 1970 e início da década de 1980. Em 2002, foi convidada pelo presidente Lula para compor o seu governo e ocasionalmente se filia ao Partido dos Trabalhadores.

Discurso de Dilma no Ato em Defesa da Democracia. Ago/2016. (AFP)
Em 2011, Dilma foi eleita Presidenta da República e nas eleições seguintes foi reeleita, democraticamente, para ocupar o cargo por mais 4 anos. Entretanto, o passado da presidenta, pelos olhos dos golpistas e de sua gênese, a condenava.
Um grande levante, influenciado pela grande mídia, e comandado pelos ardilosos ladrões da liberdade democrática brasileira, se iniciou contra a presidenta Dilma, seu governo e, até mesmo, contra o Partido dos Trabalhadores.
Indiretamente, ligaram os escândalos de corrupção associados ao PT e/ou à membros de ocupações importantes no partido, ao governo da presidenta. Desde a sua reeleição, a presidenta estava sendo bombardeada.
Os ladrões da democracia trabalharam na criação de uma personagem ao redor de Dilma. A presidenta foi retratada como uma vilã que não se importava com o povo brasileiro, uma mulher insensível.
Os mentirosos criaram uma narrativa anticorrupção. No meio das confabulações conseguiram acusar e derrubar a presidenta Dilma. Em abril de 2016, a denúncia que daria início ao processo de impeachment foi aprovada pela Câmara dos Deputados. O Senado admitiu a denúncia e em agosto a presidenta foi destituída.
“[...] à Srª Dilma Vana Rousseff a sanção de perda do cargo de Presidente da República (Diário do Senado Federal, Resolução nº 35, de 31 de agosto de 2016).” (BRASIL)
Durante a votação na Câmara dos Deputados, um show de ofensas foi apresentado. Dentre as inúmeras depreciações, é preciso destacar a de Jair Bolsonaro. Ao votar sim ao golpe, o ignóbil atual presidente, homenageou o desprezível Carlos Alberto Brilhante Ustra. Não bastasse a menção inútil a um torturador, relembrou as violações contra os direitos humanos de Dilma Rousseff, e consequentemente também de outros milhares de brasileiros vítimas da Ditadura Militar no Brasil.

Os motivos pelos quais a presidenta foi afastada do cargo, não encontravam razão jurídica para que assim fossem sentenciados. Fatos como esses, somados às estórias de Dilma, permitem com que se conclua que o golpe foi misógino, intrinsecamente contra todas as minorias.
Entre os anos de 2011 e 2014, foi produzido o relatório da Comissão Nacional da Verdade. O trabalho foi incentivado e bastante reverenciado por Dilma. No discurso referente ao recebimento do relatório final da comissão, a presidenta se emocionou ao relembrar o sofrimento perene das vítimas da Ditadura Militar.
Dilma Rousseff defende a liberdade, o esclarecimento dos fatos e a verdade. Para ela, não se devem haver heróis ou ícones baseados em torturadores e tiranos, como aqueles por quem foi injustamente castigada.
“Qualquer comparação entre a ditadura militar e a democracia brasileira, só pode partir de quem não dá valor à democracia brasileira. [...] na Ditadura não há espaço para a vida.” (ROUSSEFF)

A presidenta Dilma Rousseff se emociona ao discursar na entrega do Relatório Final da Comissão Nacional da Verdade- Brasília/DF.
Em tempos tão sombrios, onde a democracia e suas instituições sofrem ameaças constantes e reais, é necessário memorar aqueles que sempre lutaram para que os direitos cidadãos fossem garantidos. À presidenta Dilma Rousseff todo o respeito do povo brasileiro. Mesmo após tanta luta, acompanhada de apunhaladas- fossem elas da vida ou de seus “companheiros” - Dilma nunca deixa de esperançar e bravamente diz que assim o fará até o fim. Coração valente.
Referências Bibliográficas:
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CABRINI, Roberto. Crepúsculo no Alvorada. Conexão Repórter, [s. l.], 2016. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=3j592yx6VHU. Acesso em: 16 jun. 2022.
DEMOCRACIA em Vertigem. Direção: Petra Costa. [S. l.]: Netflix, 2019.
DILMA Rousseff sobre os horrores da ditadura militar. PT-Partido dos Trabalhadores: Youtube, 2021. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=FupRtchCB1A. Acesso em: 14 jun. 2022.
ESTADÃO (Brasil). Dilma. Estadão, 2011.Disponível em: https://fotos.estadao.com.br/fotos/acervo,dilma-2011,1145941. Acesso em: 15 jun. 2022.
MONTENEGRO, Darlan; HIPPOLITO, Regina. Dilma Vana Rousseff. FGV CPDOC, [s. l.]. Disponível em: http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-biografico/dilma-vana-rousseff. Acesso em: 13 ago. 2022.
MEMÓRIAS DA DITADURA. Dilma Rousseff. In: Biografias da Resistência. [s. l.]. Disponível em: https://memoriasdaditadura.org.br/biografias-da-resistencia/dilma-rousseff/. Acesso em: 13 ago. 2022.
PODER LEGISLATIVO (Brasil). Câmara dos Deputados (ed.). PLENÁRIO: Sessão Deliberativa. TV Câmara 17 abr. 2016. Filmagem. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=V-u2jD7W3yU. Acesso em: 18 ago. 2022.
Nota²: Acesse na íntegra: https://www.youtube.com/watch?v=qI7tXbky42g
Escrito por Eduardo Oliveira, estudante de História

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