No período mais dramático da ditadura militar no Brasil, quando todas as técnicas de tortura e violência haviam se esgotado, o último meio que os torturadores recorreram foi utilizar os filhos dos presos políticos, sendo crianças ou mesmo bebês, com o objetivo de obter informações. Dentre os crimes hediondos cometidos contra crianças no regime militar estão o estupro, sequestro, abuso, aborto, entre outras barbaridades. Nem mesmo as crianças ficaram imunes aos anos de chumbo no Brasil.
Um caso emblemático deste sombrio período da História do Brasil é o de Ernesto Carlos Dias do Nascimento. Ele foi preso pelo DOI-CODI com apenas dois anos de idade, juntamente com a sua mãe e seu pai Jovelina Tonello e Manoel Dias do Nascimento respectivamente. Os dois eram militantes da VPR – Vanguarda Popular Revolucionária. Por conta dos posicionamentos políticos de seus pais, o bebê Ernesto foi fichado como "elemento subversivo", permanecendo um mês detido.
Além deles, a vó de Ernesto, Tercina Dias de Oliveira foi presa com seus outros três netos menores de idade: Luiz Carlos Max do Nascimento, de 5 anos; Zuleide Aparecida do Nascimento, de apenas 3 anos e Samuel Dias de Oliveira, de 9 anos. Todos ficarem detidos no juizado de menores.
O pequeno Ernesto, ficou exilado de 1970 a 1986, em Cuba com sua avó, seus primos e outros envolvidos com a resistência. Ao longo dos anos, Ernesto estudou e formou-se em Havana como técnico de projetos mecânicos.
Outro caso significativo é o do Carlos Alexandre Azevedo, preso com um ano e oito meses no ano de 1974. De acordo com Dermi Azevedo, seu pai, ele foi brutalmente torturado nas dependências do Dops (Departamento de Ordem Política e Social) de São Paulo, sofrendo assim várias lesões que perduraram por toda a sua vida. Consequentemente, Carlos Alexandre desenvolveu depressão e fobia social, se suicidando em fevereiro de 2013, depois de ingerir uma quantidade significativa de remédios.
Amelinha e César, militantes do PCdoB, foram presos tendo sua casa invadida por agentes da repressão. Com isso, eles sequestraram as duas crianças e a irmã de Amelinha, que estava grávida de oito meses de João Carlos Grabois, que acabou sendo torturado também antes mesmo de nascer, uma vez que sua mãe Criméia Almeida levou diversos choques elétricos na barriga.
Amelinha conta que as ameaças contra os filhos eram constantes, em uma oportunidade de fala, ela conta que os agentes a reprimiam falando: "Você viu sua filha hoje? Não viu porque ela vai ser morta. Você vai ver ela num caixãozinho. Você quer um caixãozinho branco? De que cor você quer?".
Eduardo Reina, escritor e autor da obra Cativeiro sem Fim, conta que a ordem era matar os filhos de guerrilheiros, no entanto alguns militares sentiam dó e não cumpriam o que era ordenado. Então, consequentemente colocava as crianças para a adoção. Além do mais, crianças indígenas também faziam parte da lista de sequestros, de acordo com Reina. Outrossim, os chamados "filhos de terroristas" eram sequestrados para que assim os militares pudessem ter a chance de extrair informações ou simplesmente se vingar dos militantes que eram contra o governo.
Com isso percebemos que os absurdos cometidos pelos militares, muitas vezes sob ordens de seus superiores e com aval das leis e dos atos institucionais da época, atingiam toda a população do país, instaurando uma política de terror e medo. Vivendo em tal contexto, além de se preocupar consigo mesmo, os civis e militantes da oposição deveriam levar em consideração, também, a segurança de seus familiares, irmãos, filhos, sobrinhos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
REINA, Eduardo (2019). Cativeiro sem fim: as histórias dos bebês, crianças e adolescentes sequestrados pela ditatura militar no Brasil. São Paulo: Alameda. RIBEIRO, Renato Janine (1999).
Thaivone Sousa dos Santos, estudante de História
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