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Foto do escritorMemória e Ditadura nas escolas do DF

Construção da memória na Ditadura Militar

Na História, é comum alguns assuntos ganharem mais relevância do que outros de acordo com os assuntos mais comentados do momento. A política nacional é capaz de trazer à tona esses temas e até nos fazer visitar a História do Estado brasileiro, dado algumas declarações que os governantes fazem. De uns anos pra cá, a Ditadura Civil-militar brasileira esteve presente nas conversas no Congresso Nacional até em conversas descontraídas entre amigos ou familiares.


Infelizmente, muita desinformação está presente nesses debates, entre essas algumas máximas como: ditadura no Brasil matou pouco, homenagens públicas a torturadores e entre essas a falsa convicção de que o período ditatorial só afetou o cotidiano dos estadistas ou de que só sofreu repressão quem era revolucionário, envolvido com militância engajada. Essas perspectivas tem a ver com a relação com a memória desse período, e parte do trabalho do historiador é não permitir que certas relativizações do passado, simplifiquem a experiência histórica ou ocorra o silenciamento de memórias.


Atualmente existem diversos recursos que podem contribuir para a construção da memória social de um período histórico. No caso da Ditadura Militar, não só existem manuais historiográficos, relatos orais de contemporâneos documentados por jornalistas e analistas, mas também produções visuais como filmes, documentários e séries. Esses métodos disponíveis, demonstram um ponto de partida para discussão da construção a memória coletiva brasileira – conjunto de representações sociais do passado que cada grupo produz e reproduz –, mas não são as únicas fontes pela qual seria dada essa composição.


O principal referencial utilizado para esse texto, foi o artigo científico A memória histórica do Regime Militar em três gerações: conteúdos factuais e juízos críticos de SA, Celso Pereira de et al (2008). Nesse estudo foi desenvolvido uma pesquisa entre adultos, jovens e idosos no Rio de Janeiro. Os primeiros viveram a ditadura com 15 a 20 anos de idade, o segundo grupo nasceu após o fim do regime, e por fim o terceiro grupo foi composto por pessoas que viveram dois governos Vargas e também outro período de controle de memória na Ditadura. O intuito foi investigar as representações do período ditatorial na memória de cada um desses grupos, além de levar em consideração a faixa etária também foi analisado o grau de escolaridade e orientação política.


Dentre os resultados obtidos, os idosos apresentaram maior riqueza de detalhes, visão ampla dos fatos e fidedignidade factual em relação aos adultos, da mesma maneira os adultos para os jovens. Essa fidedignidade pode ser indício de um maior interesse político e de mais recursos de acesso à informação, tendo em vista que já eram adultos durante a Ditadura. Entretanto, de acordo com os resultados da pesquisa, não foi constatada uma memória coletiva hegemônica entre os idosos, devido a polarização de juízos atribuídos entre favoráveis e desfavoráveis ao regime de acordo com suas vivências perspectivadas.


Já os jovens predominantemente se mostraram contra as feitorias da Ditadura, mesmo não tendo presenciado o período, a memória tanto particular como coletiva dessa faixa etária foi construída através de ações educativas, por trocas de relatos entre gerações de conhecidos ou acessadas pelos meios de comunicação, essas em sua maioria se mostram como condenatórias as práticas do governo militar.

O grupo dos adultos evidenciou um caso bem específico, esses demonstraram uma memória pouco consistente e grande retenção das experiências vividas. Isso coincide com o endurecimento do regime devido a consolidação do AI-5 que pode ter acarretado na falta de experiências marcantes durante a adolescência e o início da vida adulta com questões políticas, pouco acesso à informações e notícias da época.


Além disso, um protecionismo familiar dos mais jovens, talvez pelo medo da repressão, diminuindo o contato com a realidade e gerando poucas memórias factuais e consequentemente se tornando alheios as situações políticas e sociais.

Portanto, fica claro que não existe apenas uma memória hegemônica do período ditatorial brasileiro. As memórias são perspectivadas e podem apresentar particularidades de acordo com o grupo etário, político e social. Mas o que as memórias tem em comum é que todas são afetadas pelas tomadas de decisão da esfera pública, ainda mais em um período tão delicado como a Ditadura Militar e seus efeitos causados na história brasileira.



Referência Bibliográfica:


SA, Celso Pereira de et al . A memória histórica do Regime Militar em três gerações: conteúdos factuais e juízos críticos. Psicol. teor. prat., São Paulo , v. 10, n. 1, p. 36-51, jun. 2008 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-36872008000100004&lng=pt&nrm=iso>.


Escrito por Thainá de Almeida, graduanda em História.




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