Durante a Ditadura Militar de 1964 a 1985, as universidades sofreram com uma serie de perseguições e com um projeto de esvaziamento científico e cultural.
Após o golpe, a Universidade de Brasília (UnB), inaugurada em 1962, fruto do trabalho de Darcy Ribeiro e Anísio Teixeira, se tornou alvo constante de violências, arbitrariedades, vigilância do aparato repressivo, invasões e ocupações militares e até a nomeação de interventores no cargo de reitor. Professores, universitários e funcionários eram perseguidos sobre a acusação de serem subversivos.
A primeira invasão aconteceu no dia 9 de abril de 1964. O reitor Anísio Teixeira e o vice Almir de Castro foram surpreendidos por tropas do exército e por policiais de Minas Gerais, que invadiram as salas de aulas e revistaram os estudantes, procurando por armas e material de propaganda subversiva. Também buscavam por 12 professores que deveriam ser presos e interrogados. Depois dessa invasão, Anísio Teixeira e Almir de Castro foram demitidos e Zeferino Vaz, professor de Medicina Veterinária da USP foi nomeado reitor.
A segunda invasão ocorreu em 1965. No dia 8 de setembro de 65, em resposta à demissão dos professores Ernani Maria de Fiori, Edna Soter de Oliveira e Roberto Décio de Las Casas, afastados por "conveniência da administração", e por temerem serem demitidos de forma arbitrária, os professores entraram em greve por 24 horas. Os alunos também aderiram ao movimento. E o então reitor Laerte Ramos de Carvalho, solicitou o envio de tropas militares ao campus.
As tropas chegaram no dia 11 de outubro e cercaram as entradas do campus, impedindo alunos e professores de entrar. Uma semana depois, quinze professores foram demitidos. Segundo o reitor, eles eram os responsáveis pelo ambiente de perturbação e haviam se manifestado de forma subversiva. Devido a essas medidas do reitor e ao clima de instabilidade que havia se instalado na UnB, 223 dos 305 professores da Universidade demitiram-se em seguida.
Em 20 de abril de 1967. O embaixador norte-americano John Tuthill esteve na Biblioteca da UnB, numa cerimônia comemorativa para a doação de livros. Com a Guerra do Vietnã e diante do apoio dos Estados Unidos à ditadura no Brasil, os estudantes resolveram protestar, vários estudantes foram vítimas de violências dentro da biblioteca, de onde foram impedidos de sair.
A invasão mais violenta aconteceu no dia 29 de agosto de 1968. Cerca de 3 mil alunos reuniam-se na praça localizada entre a Faculdade de Educação e a quadra de basquete, protestando contra a morte do estudante secundarista Edson Luis de Lima Souto, assassinado por policiais militares no Rio de Janeiro durante uma manifestação estudantil. Sete universitários, tiverem suas prisões decretadas, entre eles, Honestino Guimarães.
As forças policiais e militares cercaram a Universidade com viaturas e caminhões de choque, centenas de soldados invadiram prédios e salas de aulas, armados e com bombas de gás lacrimogênio. Estudantes e funcionários foram espancados, presos e torturados. Um dos grandes alvos da operação foi a Federação dos Estudantes da Universidade de Brasília (FEUB), considerada pela repressão como uma organização subversiva e paramilitar. Honestino Guimarães, presidente da FEUB, foi espancado e preso. Cerca de 300 estudantes foram mantidos presos na quadra de basquete da Universidade e o estudante Waldemar Alves da Silva Filho foi baleado na cabeça e perdeu um olho.
A ditadura militar tratou a UnB como um foco de subversão e difundiu a imagem de uma universidade corrompida e desmoralizada. Queriam desmantelar o projeto original da UnB, e a invasão militar de agosto de 68 foi mais uma ação integrante deste plano. Segundo Carlos Fico em “Espionagem, polícia política, censura e propaganda: os pilares básicos da repressão”, a violenta invasão da UnB em 68 foi um dos episódios de radicalização provados pela linha-dura com o propósito de justificar a necessidade de endurecimento do regime. Em 13 de dezembro 1968 entra em vigor o AI-5, que leva a repressão a outro patamar e instituciona o terror de Estado. O relatório da Comissão Anísio Teixeira de Memória e Verdade da UnB, também conclui que essa invasão militar não foi um desvio ou uma ação excessiva, mas, sim, uma operação planejada e calculada.
Em 1971, Amadeu Cury assumiu a reitoria com uma proposta de reestruturação da universidade. Mas o clima de reconstrução e calma durou poucos anos. Com a posse de José Carlos de Almeida Azevedo, oficial da Marinha, em 1976, as manifestações recomeçaram. Um ano após a mudança na reitoria, multiplicaram-se os protestos de alunos contra a má qualidade do ensino e a falta de professores.
Em 6 de junho de 1977, a UnB é invadida novamente por tropas militares, que prenderam estudantes e intimaram professores e funcionários. O estopim, dessa vez, foi a greve que estudantes e professores declararam para dar um fim às agressões que sofriam.
As invasões só acabaram com o início da abertura política no Brasil e em 1984 há eleições novamente para reitor da Universidade, Cristovam Buarque é o eleito.
Referências
https://www.unb.br/a-unb/historia/633-invasoes-historicas?menu=423
http://www.comissaoverdade.unb.br/images/docs/Relatorio_Comissao_da_Verdade.pdf
FICO, Carlos. Espionagem, polícia política, censura e propaganda - os pilares básicos da repressão. In – O Brasil Republicano – o tempo da ditadura
Fotos disponíveis no AtoM-UnB. Acesse o dossiê 1A2: https://atom.unb.br/index.php/1a2
Caroline Silva de Oliveira, estudante de História
Comments