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Foto do escritorMemória e Ditadura nas escolas do DF

A construção do personagem histórico: Perigoso Comunista, Carlos Marighella

Atualizado: 11 de jul. de 2022


Em 1911 nasce Carlos Marighella, baiano filho de um mecânico italiano e de uma

ex-empregada doméstica filha de escravos. Durante sua infância e adolescência Carlos cresceu influenciado pelas ideias socialistas de seu pai, mas seu envolvimento com a política se tornou completo a partir do momento em que o mesmo entrou no Partido Comunista Brasileiro, em 1930.


Durante seu tempo no PCB Carlos foi preso diversas vezes, sendo a primeira dois anos após sua entrada no partido. Em 1945 Marighella é anistiado por Getúlio Vargas e seu partido se torna legalizado, permitindo sua participação na Assembleia Nacional Constituinte. Em 1946 a nova Constituição é promulgada e sua atuação no congresso é normalizada. Contudo, devido à Guerra Fria e a influência Estadunidense no país, o TSE cancelou o registro da sigla de Marighella por suas possíveis ligações com a União Soviética.


“Mesmo após perder o mandato e ver seu partido proscrito, ele continuou, durante todo o período pré-ditadura, fiel à linha conciliatória e legalista do PCB. Acreditando nas margens de artifícios internos às coalizões populistas e nacional-desenvolvimentistas, os comunistas procuravam manobrar por meio da criação de um arco de alianças que englobaria as massas trabalhadoras e setores ditos ‘progressistas’ da burguesia nacional." (SAFATLE, 2019, 14)


Com o golpe militar de 1964 ocorreu, também, a transição de Marighella para a luta armada. Marighella acreditava que a esquerda falhou durante o ano de 1964 e continuava falhando durante os primeiros anos da ditadura. Tal despreparo e falta de ação teriam sido um erro fatal que culminou na ditadura militar e no enfraquecimento dos partidos de esquerda.


Em 9 de maio de 1964 Marighella é detido num cinema do Rio de Janeiro. De acordo com seu livro, lançado um ano após o acontecido, não existia motivo para sua prisão além do fato do mesmo não se encontrar em sua residência no momento em que a polícia o procurou em sua casa. Mesmo sem estar armado e a sessão de cinema contar com diversas crianças, Marighella foi retirado do cinema à força e com um tiro próximo ao coração.


A partir do momento em que o mesmo pôde ser realocado de um ambiente hospitalar ao ambiente da cadeia, conta ele, a polícia fez de tudo para deixá-lo incomunicável e sem acesso a um advogado. Foram diversas as ocasiões em que o mesmo foi interrogado em relação a suas ligações com Prestes, Cuba e o PCB.


Quando liberado, depois que mais de um mês se passou, decidiu que seu papel era se tornar um guerrilheiro e lutar contra o governo queprivou a ele e a seus conterrâneos.


“Solicitando demissão da atual Executiva - como o faço aqui-, desejo tornar público que minha disposição é lutar revolucionariamente, junto com as massas, e jamais ficar à espera das regras do jogo político burocrático e convencional que impera na liderança.”(MARIGHELLA,2019, 220)


Ao lançar seu livro Por que resisti à prisão, altamente criticado por seu partido e associados, Marighella se vê frustrado com seu partido e com a esquerda. Por este motivo, escreveu uma carta solicitando sua demissão da executiva à qual o mesmo compunha. Depois deste momento e por diversas discordâncias com o PCB, ocorreu sua expulsão do partido em 1967, logo após sua participação na I Conferência da Organização Latino-Americana de Solidariedade (OLAS) em Havana.


Ao sair do PCB e passar um período em Cuba, Marighella vê na luta armada a melhor reação à ditadura civil-militar que vigorava naquela época. A partir desse sentimento de revolta nasceu a ALN, uma organização de extrema esquerda que tinha como preceitos o combate à ditadura civil-militar brasileira, livrar o país do imperialismo norte-americano e posteriormente atingir o Socialismo.


Por meio da guerrilha a ALN foi responsável pelo sequestro do embaixador Charles Elbrick, planejado pelo grupo Dissidência Comunista Guanabara, o assassinato do empresário Henning Boilesen e pelo furto de armas e bancos. Por se tratar de um movimento de extrema esquerda a ALN não encontrou apoio na população que ignora o seu projeto revolucionário, salvo alguns estudantes revolucionários e dissidentes do PCB.


“Ninguém espera que a guerrilha seja o sinal para o levante popular ou para a súbita proliferação de focos insurrecionais. Nada disso. A guerrilha será o estímulo para o prosseguimento da luta de resistência por toda parte. Para o aprofundamento da luta pela formação da frente única anti ditadura. Para o esforço final da luta de conjunto, de todos os brasileiros, luta que acabará pondo por terra a ditadura.”(MARIGHELLA, 2019, 219)


Na noite de 4 de novembro de 1969 Marighella foi ao encontro de dois frades dominicanos com quem mantinha contato. Avistou o Fusca azul com os freis a bordo e entrou no carro, parte das corriqueiras reuniões entre os companheiros. Os religiosos do convento no bairro de Perdizes, apoiavam o movimento desde 1967.

Contudo essa reunião seria diferente, o Dops havia descoberto seu contato com os frades e detido dois deles que, por meio de sessões de tortura, foram obrigados a revelar como os encontros eram organizados.


A sequência dos acontecimentos que se seguiram não é certa, contudo é sabido que

Marighella foi atingido por balas diversas vezes, sendo um dos tiros fatal no peito. Os jornais da época trouxeram como versão oficial que sua morte foi devido a um tiroteio em que o próprio Marighella estaria com uma arma. A pedido da Comissão Nacional da Verdade, foi feita uma análise pericial, no ano de 2012, que afirmou que um dos tiros foi disparado a menos de 8 cm num caso comumente considerado uma execução. Mais de 40 policiais foram promovidos pelo caso.


“Depois de ser enterrado como indigente no cemitério de Vila Formosa, em São Paulo, em 1969, Marighella - ou seus restos mortais - foram transferidos dez anos depois para um túmulo desenhado por Oscar Niemeyer em Salvador.” (FAGUNDEZ, 2019)


Em São Paulo existe um marco da história, uma pedra que representa o local em que

Marighella foi assassinado em 1969. A pedra teve sua placa furtada e passou por diversas situações de depredação e ataques. Também ocorreram diversos eventos, ao longo dos anos, feitos em volta da pedra exaltando Marighella e sua atuação política. Houveram tentativas de mudar o nome da rua para o nome do guerrilheiro, contudo tais tentativas não se concretizaram devido à falta de apoio dos moradores da rua.


Marighella foi um homem de ideais fortes e lutou até sua morte pelo que acreditava. Como personagem histórico sua vida passa pela romantização daqueles que são contra governos ditatoriais e pela demonização daqueles que se identificam com o conservadorismo do período. Mesmo com a influência de discursos sua história continua como parte da história do

país.


“[...] temos que considerar que a iniciativa de Carlos Marighella, através da ALN, representou uma reação à ditadura civil militar que vigorava naquela época, sendo assim seria um equívoco taxá-lo de inimigo N° 1 do Brasil. Nessa constante disputa de memórias, que ocorre na história dos movimentos de resistência política, considero importante frisar este aspecto da ALN, bem como destacar que a maioria dos militantes os quais cerraram as fileiras da organização, mesmo que de forma maniqueísta, lutavam pela melhoria das condições de vidados mais humildes.”

(MELLO, 2017,14-15)


Revolucionário, seu papel na história foi de porta-voz de um grupo que não aceitava viver num país governado por militares e para militares. Considerado, em certo momento, o inimigo no 1 do Brasil, seu planejamento para o país era um governo socialista justo e igualitário. Infelizmente, Marighella nunca pôde ver os frutos de seu trabalho, o fim da ditadura no Brasil.


Referências:


Ingrid Fagundez; BBC NEWS São Paulo; 6 de maio de 2019;

https://www.bbc.com/portuguese/brasil-47423625 ; data de acesso ao site: 5 de julho de 2022.


MARIGHELLA, Carlos A. Chamamento ao povo brasileiro e outros escritos. Edição 1a,

segunda reimpressão. São Paulo: Ubu Editora, 2019. Organização por Vladimir Safatle.


MELLO, Paulo M. M. de A. Carlos Marighella e a Ação Libertadora Nacional (ALN) 1967

-1969. XXIX Simpósio de História Nacional, 2017. Disponível em:

https://www.snh2017.anpuh.org/site/anais#P . Acesso em: 5 de julho..


Escrito por Vitória Campos Araujo, estudante de Teoria Crítica em História da Arte



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