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Foto do escritorMemória e Ditadura nas escolas do DF

28/03/1968: Assassinato do estudante Edson Luís

Atualizado: 6 de abr. de 2022

Edson Luís de Lima Souto nasceu no dia 24 de fevereiro de 1950 em Belém, capital do Estado do Pará. De família humilde, Edson mudou-se para o Rio de Janeiro para fazer o segundo grau no Instituto Cooperativo de Ensino, no qual funcionava o restaurante Calabouço. O espaço “Restaurante Central dos Estudantes”, conhecido como Calabouço, era um restaurante estudantil que oferecia comida a baixo custo para estudantes de baixa renda no Rio de Janeiro, atendia alunos carentes, em especial secundaristas e vestibulandos, e era mantido com verba do Governo Federal. Pela grande concentração de estudantes, o local era também palco de várias manifestações por melhorias na educação e contra o regime militar durante a época. Porém, desde 1964, após o golpe, os militares passaram a reprimir toda manifestação por uma educação de qualidade.


No dia 28 de março de 1968, durante a ditadura de Costa e Silva, os estudantes planejavam realizar uma passeata que teria como intuito protestar contra a alta do preço da comida no restaurante Calabouço. Antes mesmo do ato, a Polícia Militar invadiu o restaurante onde mais de 300 estudantes jantavam. Os estudantes reagiram atirando pedras e paus, enquanto a polícia usava sequência de tiros. No embate, seis pessoas foram feridas, uma delas fatalmente no peito: o estudante Edson Luís, com apenas 18 anos. O comandante da tropa da PM, Aloísio Raposo, matou o estudante com um tiro à queima roupa no peito. O estudante Benedito Dutra também levou um tiro da polícia militar, chegou a ser internado, mas acabou falecendo no dia seguinte.

Os outros estudantes temendo que os policiais sumissem com o corpo de Edson Luís, não permitiram que ele fosse levado para o Instituto Médico Legal (IML), mas o carregaram em passeata diretamente para a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, na Cinelândia, onde seu corpo foi estendido no saguão do prédio e velado, sua camisa foi utilizada como bandeira, símbolo da violência (VIEIRA, 2020, p. 6). A cidade do Rio foi tomada por enormes protestos após sua morte, no dia seguinte ao acontecimento, o movimento estudantil decretou greve geral, os teatros suspenderam seus espetáculos, mais de 50 mil pessoas compareceram ao seu velório, entre elas estudantes e artistas, caminhando juntos até o Cemitério São João Batista, em Botafogo. Na multidão, cartazes com as frases “Os velhos no poder, os jovens no caixão”, “Bala mata fome?” e “Mataram um estudante. Podia ser seu filho”. A missa realizada em sua memória também teve como consequência tragédias causadas pela polícia. Na Igreja da Candelária, a cavalaria da Polícia Militar cercou o local e atacou as pessoas que estavam prestando homenagens ao garoto, fazendo com que dezenas de pessoas ficassem feridas.


Retirado de: Fundo Correio da Manhã/Arquivo Nacional.


Edson Luís não participava do movimento estudantil e foi morto durante uma manifestação por melhorias no restaurante Calabouço. O estudante foi apenas o primeiro a ser morto publicamente por militares durante a ditadura. A morte de Edson Luís foi o estopim para uma série de manifestações em todo o país, a maior delas a “Passeata dos Cem Mil” contra a ditadura militar em 26 de junho de 1968, no Rio de Janeiro, com a participação de militantes, líderes estudantis, artistas e até políticos contrários ao regime, também nas ruas da Cinelândia. O assassinato antecedeu a radicalização dos crimes cometidos pelo regime no Brasil por meio do Ato Institucional AI-5, em 13 de dezembro de 1968.

Os estudantes do calabouço, de maneira geral, tiveram papel importante no movimento estudantil contra a ditadura. A morte de Edson Luiz representou o início do movimento pela democracia e contra a violência. Sua morte representa a fúria da ditadura contra os estudantes e é associada à promulgação do Ato Institucional nº 5 (AI-5), em 13 de dezembro do mesmo ano. (VIEIRA, 2020, p. 7), no qual as pessoas estavam proibidas de se reunir, em clubes, sindicatos, até nos próprios lares.


Retirado de: Fundo Correio da Manhã/Arquivo Nacional.


Atualmente, dia 28 de março é comemorado o “Dia Nacional de Luta dos Estudantes”. O dia é uma data histórica de luta para o movimento estudantil e é lembrado em homenagem a Edson Luís. O dia foi escolhido simbolicamente como o dia de luta dos estudantes para lembrar a repressão sofrida durante a ditadura empresarial-militar no Brasil. A homenagem ao estudante é uma forma de manter viva a memória de Edson Luís no dia-a-dia do movimento estudantil. Esse capítulo da história do Brasil e a intervenção dos estudantes secundaristas traz à memória a luta por uma educação pública, gratuita, de qualidade, em defesa da democracia, da liberdade e contra qualquer tipo de repressão.


Referências Bibliográficas

BARREIROS, Isabela. Edson Luís de Lima Souto: 52 anos da morte que antecedeu o AI-5. Aventuras na História, 2020. Disponível em: https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia-edson-luis-de-lima-souto-morte-que-antecedeu-o-ai-5.phtml Acesso em: 18 de março de 2022.

BRAGA, Pauliane. Assassinato do estudante Edson Luís. Rio Memórias, 2020. Disponível em: https://riomemorias.com.br/memoria/assassinato-de-edson-luis/. Acesso em: 17 de março de 2022.

MULLER, Angélica. “Você me prende vivo, eu escapo morto”: a comemoração da morte de estudantes na resistência contra o regime militar. Revista Brasileira de História, vol. 31, nº 6. São Paulo, 2011

PSTU. Morte de Edson Luís completa 37 anos. PSTU, 2005. Disponível em: https://www.pstu.org.br/morte-de-edson-luis-completa-37-anos/. Acesso em 17 de março de 2022.

VIEIRA, Leylianne Alves. Memórias e disputas: o caso Edson Luís e a memória de 1968. Revista Brasileira de História na Mídia, vol. 9, n° 2, São Paulo, dez. 2020.


Escrito por Evelyn Gonçalves, estudante de História.


















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